Sede do Banco Central em Brasília. Foto: Rodrigo Oliveira/Caixa Econômica Federal.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano, contrariando parte do mercado que esperava sinais de flexibilização. A decisão ocorre em um contexto de desaceleração da inflação geral, mas com a inflação de serviços ainda em alta, fator considerado crucial pela autoridade monetária.

Em agosto, o país registrou deflação, influenciada pela queda nos preços de energia elétrica e alimentos. O cenário levou analistas a revisarem para baixo as projeções do IPCA em 2025, que agora devem ficar em torno de 4,3%. Ainda assim, o Banco Central manteve a postura cautelosa, justificando que o alívio recente pode ter caráter temporário.

Serviços no centro da preocupação

Para o economista Júlio Paschoal, ouvido pela AutImob, a leitura do BC é de que a inflação de serviços tem mais peso porque reflete a dinâmica interna da economia, menos sujeita a choques externos.

“Os preços de energia e alimentos caíram, mas isso não significa que o problema estrutural da inflação esteja resolvido. O mercado de trabalho continua forte, os salários estão em expansão e isso sustenta a inflação de serviços. É justamente esse componente que preocupa o Banco Central”, afirma Paschoal.

Segundo ele, a decisão mostra que a autoridade monetária prefere arriscar um crescimento mais baixo agora a permitir que a inflação se torne persistente.

Impacto direto no setor imobiliário

A manutenção da Selic em patamar elevado mantém o crédito mais caro para empresas e famílias. No caso do setor imobiliário, o efeito é imediato nos financiamentos habitacionais, já que os bancos usam a taxa básica como referência para calcular os juros dos contratos.

“Com os juros altos, o financiamento imobiliário fica mais restrito, o que reduz a capacidade de compra das famílias. Por outro lado, temos visto uma busca maior por alternativas, como consórcios e programas habitacionais, que conseguem mitigar um pouco esse efeito”, explica Paschoal.

Mesmo com esse cenário, incorporadoras e imobiliárias seguem com lançamentos, apostando em nichos de mercado e em condições especiais de negociação para atrair compradores.

Expectativas para frente

Embora a economia brasileira dê sinais de desaceleração, o PIB do segundo trimestre cresceu abaixo do esperado, Paschoal avalia que o BC deve esperar mais evidências de queda na inflação de serviços antes de reduzir a Selic.

“Se a inflação estrutural continuar pressionada, dificilmente veremos cortes em 2025. A tendência é que o Banco Central só abra espaço para flexibilização em 2026, caso o cenário mostre maior consistência”, avalia o economista.

Enquanto isso, o mercado imobiliário segue acompanhando de perto. O desempenho do crédito, a renda das famílias e a confiança do consumidor devem ser variáveis decisivas para o comportamento do setor nos próximos trimestres.