O luxo italiano sempre foi mais do que estética: é uma narrativa de herança, pertencimento e escassez. Dos palácios renascentistas às passarelas de Milão, o que se perpetua é a habilidade de transformar materiais em símbolos, roupas em arquitetura e experiências em legado.

As casas italianas entenderam isso cedo. Armani depurou linhas até a essência e levou sua visão minimalista para hotéis e residências. Valentino fez do vermelho uma assinatura emocional. Versace transportou o barroco mediterrâneo para palácios modernos. Bulgari transformou a joalheria em espaços habitáveis. Dolce & Gabbana levaram a teatralidade siciliana para experiências de lifestyle. Cada uma dessas marcas estendeu sua narrativa para além da moda — para o modo de viver.

É nesse contexto que emergem os branded residences: edifícios assinados por marcas que não vendem apenas metros quadrados, mas status, comunidade e continuidade. Os números confirmam o fenômeno: o mercado global de real estate de luxo movimentou US$ 289,6 bilhões em 2023 e deve chegar a US$ 515,3 bilhões até 2032, crescendo a uma taxa anual de 6,5%.

Segundo a Savills, branded residences alcançam em média um prêmio de 30% sobre imóveis comparáveis, podendo chegar a 50% em mercados emergentes. Há hoje cerca de 740 empreendimentos concluídos no mundo, e mais 790 em desenvolvimento até 2031, o que significa praticamente dobrar a oferta global em menos de uma década.

Em destinos turísticos e resorts, o prêmio de valor chega a 34%, acima da média global, enquanto em cidades emergentes pode superar 45%. Esses dados explicam por que os branded residences deixaram de ser uma exceção e se tornaram um dos segmentos mais dinâmicos do mercado imobiliário mundial. Eles funcionam como a alta-costura da arquitetura: feitos para poucos, sustentados por narrativas fortes e destinados a carregar o peso de um legado.

O Brasil já participa desse movimento com empreendimentos assinados nos principais centros do país, enquanto novas cidades começam a ser incorporadas a essa cartografia internacional do luxo. O que importa, mais do que os endereços, é a lógica por trás do conceito: cada projeto é menos sobre tijolos e mais sobre o poder de uma marca global em criar pertencimento. Branded residences são a materialização contemporânea do que a Itália sempre soube fazer melhor — transformar estilo em patrimônio e pertencimento em valor .





Marcos Henrique Santos é especialista imobiliário e CEO da empresa Launch Machine.